Etapa 06 - TIERRA DEL FUEGO

Países: ARGENTINA

Datas: 06/01/00 a 09/01/00

 

06/01/00 Quinta-feira - Chegada na Tierra del Fuego (633Km)

Saímos de Rio Gallegos rumo ao "Fim do Mundo"!!!

São 143Km até Punta Delgada, cidade onde se pega a balsa para se cruzar o Estreito de Magalhães. Antes disso tivemos que passar por toda enrrolação das fronteiras mais uma vez... é necessário se percorrer um trecho dentro do Chile, antes e depois da balsa... obviamente, jogadas políticas e militares... Neste momento não nos preocupávamos com nada... afinal, estávamos pisando sobre a Tierra del Fuego!!! O lugar chamado Fin del Mundo mas na realidade, princípio da vida!!!

Até Ushuaia ainda é preciso percorrer 330Km, dos quais 205 são de rípio (cascalho). Nos últimos quilômetros sobe-se uma serra e a paisagem começa a mudar rapidamente dando espaço para grandes cadeias de montanhas com gelos em seus cumes.

Chegamos em Ushuaia as 23 horas e o céu ainda estava bastante claro... Este momento foi de grande emoção pois caímos definitivamente na real do lugar em que estávamos... Havíamos completado uma grande etapa da viagem e graças a Deus tudo até agora estava correndo muito bem!!

Optamos por ir diretamente para o PN da Tierra del Fuego, 17Km da cidade... obviamente não iríamos conhecer nada... apenas acampar para já acordar diretamente por lá. Este parque é o único costero de toda Argentina e apresenta a mais variada combinação de fauna e flora. Inúmeros bosques, montanhas, glaciais, lagos e rios abrigam uma enorme quantidade de animais. Chegamos ao camping e armamos a barraca em um frio absurdo, abaixo de zero, sob um céu magnífico. Sobre a noite já não posso dizer a mesma coisa pois quase morri de frio... meus pés chegaram a endurecer!!! Foi engraçado mas desesperador!

A todo instante se faz contato com um animal diferente. Fomos acordados pela manhã por uma raposa e logo mais assistimos o vôo de um condor, experiências estas que nos fizeram esquecer da noite congelante. (Fabiano Coura)

07/01/00 Sexta-feira - Parque Nacional e Ushuaia (72Km)

ZERO graus!!! Essa foi à temperatura que nos fez acordar "congelados" no Parque Nacional Tierra del Fuego em nossa primeira noite acampados em Usuhaia. O vento forte "trincava os dentes", eu não consegui dormir na barraca e fui deitar dentro de nossa Rainha Vitória, onde descansei tranquilamente. Os outros dois falaram que não foi fácil não!!!

Pela manhã bem cedo desmontamos o acampamento e saímos para conhecer o parque. O primeiro ponto de parada foi nas margens do Rio Pipo, na Bahia Ensenada, onde os fortes ventos formam ondas na água que se chocam contra uma praia de pedras, o que torna um cenário único para um bom amanhecer. Foi nesse rio, que mais parece um grande lago, que nós encontramos uma excursão de idosos norte-americanos que visitaram a região, eles ficaram intrigados com nossa aventura o que nos rendeu várias fotos e muitos "good luck!!" para toda a equipe.

Durante aproximadamente 10 dias, tempo que estivemos atravessando todo o litoral atlântico da Argentina, a estrada utilizada foi a Ruta 3. A esta devemos vários elogios, muito bem pavimentada, diversas placas de sinalização com uma grande rede de assistência aos usuários... pois bem essa nossa companheira que começa em Buenos Aires acaba dentro do Parque Nacional Tierra del Fuego, em Usuhaia, no ponto continental mais extremo do mundo. Ao todo foram 3063km percorridos nela e um incontável número de sensações, pensamentos e acontecimentos. Tiramos fotos no fim da Ruta e no Fim do Mundo e continuamos percorrendo todos os caminhos. O Fabiano e o Gima ainda foram atrás de uma trilha para um mirante mas preferi ficar descansando no carro... o pior e que havia combinado de encontrar os dois do lado do trilho de um trenzinho "mala" que passava toda hora cheio de pessoas que ainda ficavam tirando fotos minhas, acabei posando e me divertindo.

Pouco depois das 17hs voltamos para Usuhaia, onde procuramos um lugar para se alojar. Não foi fácil encontrar o que sempre procuramos, um lugar bom e barato, estavam lotados ou eram caríssimos. Depois de muitas voltas chegamos ao albergue Saint Cristopher, um lugar limpo, barato (US$11) e com pessoas de todas as partes do mundo. O único brasileiro era Ignácio, nascido em Belo Horizonte, filhos de Argentinos e morando na Inglaterra. Ficamos amigos rapidamente e fomos jantar. O cardápipo foi uma bela "parrilhada", uma espécie de churrasco feita com tudo quanto é parte de boi, carneiro, porco e frango. Isso tudo vem em uma chapa quente e não dá prá diferenciar direito o que é "tripa" e o que são as carnes "normais" que comemos no Brasil!!! Depois de muita conversa e alguns vinhos, ainda tentamos trabalhar mas, FALÔ!! (Dado).

08/01/00 Sábado - A cidade de Ushuaia (49Km)

Viajar é muito mais do que conhecer lugares, se aventurar por caminhos inéditos ou desfrutar-se de paisagens exuberantes... muito mais do que isto, viajar é conhecer pessoas e trocar experiências. Ushuaia reúne malucos de todas as partes do mundo... pessoas que largam tudo e simplesmente saem para viajar em busca de todas essas emoções, sem destino e sem dia para voltar... as conversas são longas e divertidas e o contato com as diferentes culturas é intenso. Esses são os que eu chamo de amigos temporários, pois quando menos se espera desaparecem e deixam somente um pouco de suas experiências (de viagem e da vida). As breves linhas que o Dado escreveu certamente fará vc ter idéia do que eu estou falando... (Fabiano Coura)

Saímos para conhecer a cidade. Usuhaia, a mais austral do mundo. Era no passado uma grande prisão onde ficavam presos políticos e criminosos perigosos do país, em meados de 1947 esta prisão foi desativada e deu lugar a um pequeno vilarejo que se desenvolveu com a pesca e, de uns 20 anos para cá, se tornou um pólo turístico. A cidade se parece um pouco com Campos de Jordão, com o mesmo estilo de casas mas com pessoas de todas as partes do mundo. Os preços dos restaurantes e hospedagens são um pouco altos e tem-se que procurar bastante para se gastar pouco. A região é zona franca e se encontra produtos importados com ótimos preços, incluindo-se bebidas e perfumes.

A cidade está a menos de 1000Km da Antártida e conta com um porto no canal de Beagle (sul) que leva frequentes excursões para lá. No escritório de turismo (Av. San Martín 660) pode-se obter todas as informações possíveis sobre a região... incluindo passeios, hospedagens, atrações, etc...

Há um glacial muito próximo a cidade que se pode escalar. Chama-se Glaciar Martier e fica a 12Km da cidade. Lá se pode pegar um teleférico que vai até o pé da montanha, início de uma grande pista de sky de inverno. Neste ponto há um barzinho show onde se pode tomar um caldo ou chocolate quente apreciando-se a belíssima vista panorâmica de Ushuaia. Apartir daí são aproximadamente 2h de subida íngreme acompanhando e, por várias vezes, cruzando o rio formado pelo degelo do glacial. Conseguimos chegar na neve após muito esforço e fomos surpreendidos por uma fortíssima nevasca que agilizou nossa descida... foi demais!

Uma das melhores coisas da viagem vem sendo as amizades que estamos fazendo. Muitas histórias, experiências compartilhadas, risada, dicas, descontração, alegria, o que havia de sobra no albergue em que estávamos.

Jakob e Tcheo eram dois dinamarqueses que já haviam feito várias viagens pelo mundo e falavam bem espanhol. Deles vinham as histórias mais engraçadas. Um gostava de futebol e o outro amava política. Estavam sempre bebendo e conversando. Alex e Mário, um francês e o outro canadense, são sócios em uma empresa de turismo em Quebec e estão percorrendo a América do Sul para depois fazerem viagens de turismo de aventura para os canadenses. Alex (o francês) "cantava" todas as mulheres que apareciam no albergue, podia ser gorda, magra, velha, nova, não tinha tempo ruim para ele, já seu companheiro Mário Robocop não falava absolutamente nada e limitava-se a dar risada das histórias do francês.

Outra figurinha do albergue era o Steve, um canadense muito louco que esta fazendo um filme, uma produção independente que narra as aventuras de um idiota e um malandro pelo mundo. Por conta disso ele está rodando o mundo inteiro sozinho. Já havia filmado no Japão, Rússia, China,... e estava agora tentando ir a Antártida!!! O detalhe é que ele não tinha dinheiro para pagar seus atores, por isso em cada lugar que ia, ele arrumava duas pessoas, fazia uma ser esperta e a outra idiota e colocava uma roupa que caracterizava os personagens... o filme deve ficar uma beleza!!!

Bom, se eu fosse contar sobre todas as histórias que ouvimos e de todas as pessoas que conhecemos teria que fazer um livro, realmente valeu a pena ter ficado nesse albergue. Se você for a Usuhaia algum dia não perca a oportunidade de se hospedar desta forma. Em Saint Christopher fale com o Sebastian ou com a Silke, são ótimas pessoas. (Dado)

09/01/00 Domingo - Despedida da Tierra del Fuego (313Km)

Nossa despedida não foi das melhores, passamos o dia todo trabalhando duro para fazer as atualizações do site e enviar os textos e fotos para os jornais e revistas.

Despedimos do pessoal e em especial do nosso amigo Ignácio, que voltaria para Buenos Aires para se despedir da família antes de seguir para Londres. Não sei se vai ler estas páginas, mas se algum dia o fizer, fica aqui um abraço especial de toda equipe pasma pelo seu gesto tão humano.

Já bem tarde passamos pela agência Telefónica de San Martin para fazer a conexão e transmitir tudo.

Interessante como nos trataram bem nesta cidade. É extremamente acolhedora o que fez com que nossa despedida fosse ainda pior. Ficaríamos mais uma semana por alí fácil... mas infelizmente estamos 4 dias atrasados e nos resta somente as lembranças dos agradáveis momentos vividos.

Tentamos ir pelo caminho que segue pelo Chile, para conhecer o outro lado da ilha, cruzando de balsa apartir de Pouvenir até Punta Arenas, o que não foi possível pois não havia balsas para os próximos 4 dias. Tivemos que voltar pelo mesmo caminho da ida... uma coisa contra nossos princípios mas inevitável.

Compramos alguns presentes do fim do mundo como recordação e partimos para San Sebastian. Como só havia balsa no dia seguinte dormimos em um quarto oferecido pelos guardas da fronteira. O lugar mais seguro até agora. (Fabiano Coura)

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